sábado, 17 de março de 2012

O futuro é azul


Ela riu, pôs a mão aos lábios e soltou um beijo.
Aparentava ter uns dois anos, três talvez.
E foi uma simples garota que estava no ônibus que me mostrou como é linda a inocência de uma criança. Há de ser mesmo tão bom o prazer da paternidade, como dizem. Um filho é uma parte sua; um pouco da sua historia traduzida em outro ser, onde bate um coração e pulsa nas veias o seu sangue.
 Parando para pensar uma criança é a melhor representação do futuro, não só o da nação e o dela, mas também o de cada um como melhor ser humano, talvez exista sim um garoto dentro de nós, gritando para sair, pedindo para nos fazer mudar, resta a nós encontrá-lo.
Meninos e meninas apresentam a nós a renovação, uma transformação diária de como mudar, de como aprender a ser melhor e mais feliz. E são nos seus primeiros passos, tropeços difíceis que se começa uma vida.
A menina desceu com a mãe, seguiram seu caminho de volta, eu continuei a viagem, esperando meu futuro; um futuro como a camisa da pequena garota, azul, como o céu e de bolinhas brancas, feito nuvens.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Rituais

de Janaína Azevedo.


            Matou-se, mas num dia de serenidade tão grande que qualquer violência parecia impossível.(Lúcio Cardoso, Crônica da casa assassinada).

Banhou-se com óleos de amêndoas. Sentou-se depois na cadeira, na sala de jantar e pôs-se a olhar a mesa posta dos dias fáceis. Levantou-se e mirou o quarto: cheirando a lavanda, os lençóis bem limpos. Os banheiros exalavam o habituado odor de eucalipto. A varanda, o quintal; varridos e limpos. Alimentado o cão. Nenhuma teia de aranha sob o teto. Lençóis brancos e fardas escolares alçavam voos, no varal. Louça lavada, comida cheirosa – chegou então à sala de espera: decoração impecável. Suspirou: misto de dignidade, orgulho e alívio. Olhou mais uma vez. Tudo tão perfeito!
Destoava apenas aquela grossa corda, um pouco encardida, presa resistentemente ao teto, esperando-a.

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