sexta-feira, 9 de março de 2012

Rituais

de Janaína Azevedo.


            Matou-se, mas num dia de serenidade tão grande que qualquer violência parecia impossível.(Lúcio Cardoso, Crônica da casa assassinada).

Banhou-se com óleos de amêndoas. Sentou-se depois na cadeira, na sala de jantar e pôs-se a olhar a mesa posta dos dias fáceis. Levantou-se e mirou o quarto: cheirando a lavanda, os lençóis bem limpos. Os banheiros exalavam o habituado odor de eucalipto. A varanda, o quintal; varridos e limpos. Alimentado o cão. Nenhuma teia de aranha sob o teto. Lençóis brancos e fardas escolares alçavam voos, no varal. Louça lavada, comida cheirosa – chegou então à sala de espera: decoração impecável. Suspirou: misto de dignidade, orgulho e alívio. Olhou mais uma vez. Tudo tão perfeito!
Destoava apenas aquela grossa corda, um pouco encardida, presa resistentemente ao teto, esperando-a.

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