quinta-feira, 14 de julho de 2011

A ditadura ainda não terminou - Parte I



Eu morei durante muito tempo no 13º andar do edifício Liberdade, no centro de São Paulo, o prédio não era o mais moderno da época, mas a vizinhança era boa, eu tinha amigos, eu não era um garoto que curtia muito natureza, sempre preferi a bagunça da cidade, se bem que São Paulo naquela época não era como hoje.
Tudo era muito normal, todos os dias eu acordava cedo, estudava pela manhã, morava com meu pai, minha mãe, filho único, naquela época eu gostava mesmo era de ver TV, não via a hora de chegar em casa para ver os desenhos que passavam. TV não era pra todo mundo, mas meu pai possuía um bom emprego e as despesas não eram muitas lá em casa.
Era 1964, eu era apenas um garoto, 13 anos, magricela, eu ouvia sempre falarem sobre queda do governo, do presidente, mas naquele tempo não entendia muito bem, mas Março de 1964 foi um mês histórico, eu da janela do apartamento vi quase tudo que aconteceu em São Paulo, passeatas estudantis, militares à cavalo, estudantes de um lado, sem nada nas mãos ainda, militares do outro.
Tudo era muito abafado, não era como hoje, a censura não permitia nada que atingisse o exercito nacional, pessoas eram mortas, e nada se falava, casos de desaparecimentos eram freqüentes, até um vizinho do andar de cima sumiu por um tempo, as pessoas falavam , diziam já saber o vencedor desta briga, nada se falava nos jornais, nada se falava nas escolas, e na TV, essa sim que se encarregava de entreter, nesse mesmo ano a telenovela passou a ser diária, já estava tudo acabado, era o começo da alienação em massa.
Até certo tempo tudo mudava aos poucos, vieram os primeiros atos institucionais, o exercito comandava o jogo agora, até que passaram alguns anos, e eu ainda ali na janela vendo tudo, criei barba, já namorava algumas garotas, ouvia rock, chiclete de bola era moda, era 1968, AI-5, agora a briga estava feia, o exercito estava no poder, mas a repressão continuava, e os tais comunistas que eles diziam serem comedores de criancinhas eram seus maiores inimigos.
No Rio, estava acontecendo à passeata dos cem mil, nesse período basicamente que eu mudei, ou minha vida mudou. Era meu ultimo ano de escola, e eu tinha uns amigos no movimento estudantil, até ali não achava que participar não seria nada demais, até porque não tínhamos nem com o que lutar, depois vim descobrir a função dos pedaços de pau, pedra, bolas de gude. Naquela luta valia tudo.

 Continua.

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