quinta-feira, 21 de julho de 2011

A ditadura ainda não terminou - Parte II

                             
Eu tinha 17 anos e pela primeira vez na minha vida tinha me apaixonado, era ótima a sensação de sentir fervor no peito, ir à luta de punho fechado por um ideal, era tudo a favor naquela época, eu achava que podia mudar o mundo, eu podia mesmo, mudei meu mundo ali, na primeira vez que fui para rua.
Depois de um tempo, já me vi ali na luta armada, não tinha nem como mais pensar em sair, não daria nem mais para esconder em casa, minha mãe, coitada, morria de preocupação, acendia não sei quantas velas para santo expedito, mas não era só o meu ideal em jogo, era o da minha nação, era o meu país, minha revolução.
 Os hinos eram outra parte fundamental da minha paixão, para mim não eram apenas músicas, Vandré é muito mais que um músico, sem falar dos outros que abalaram minha adolescia e as fases da minha vida.
Eu em 1970 já estava entre os mais procurados do país, acusado de assaltos, seqüestros, assassinatos, naquele momento eu só me esquivava, até que eu cheguei a cair.
Nesse tempo de ditadura eu posso falar em todos os aspectos, eu vi de fora, vi de dentro, e senti a tortura, momentos em que não gosto de lembrar, quantos companheiros meus não perdi para os quais diziam levar o país para frente, senti tudo com a maior frieza, eu não me permitia cair para mim mesmo, eu já estava ali, e sabia que seria muito difícil sair vivo. Passei três meses preso, foi sem dúvida, a pior época da minha vida, fui solto por conseqüência de um seqüestro feito por meus companheiros de guerrilha. Depois de solto, fui o brigado a sair do país, “ame ou deixe-o”, esse era o slogan usado por um presidente na época.
E era a tal inflação que não baixava. A tal bandidagem que não conseguia administrar o país, e não foram pra isso que os militares fizeram a “revolução” de 1964, é foi um golpe, e nem conta deram. Eu só pude voltar ao país em 1979, voltei do exílio, eu estava pisando novamente no país, depois de longos nove anos fora, e por honra ainda tivemos Elis Regina como trilha sonora, foi ali, que percebi que eu fazia parte da história do Brasil.

 Continua.


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